Manhã de chuva, dia nublado; daqueles tão cinzas que qualquer graça se perderia.
Ela descia, atrasada como sempre, se atrapalhando na tentativa de organizar na grande bolsa, um caderno e um telefone celular.
O vai e vem de pessoas, apressadas, fugindo dos pingos que caiam incessantes do céu. Um mar de guarda-chuvas atravessava de um lado a outro como uma dança não sincrônica, descompassada. Pretos, cinzas, mornos.
Chegou ao ponto de ônibus e, enquanto aguardava a sua lotação, avistou do outro lado da rua um homem que chamou a sua atenção. Aliás, a atenção de todos. Não por “ser nada demais”, mas, por ousar ser diferente. Aquele homem trazia nas mãos um guarda-chuva amarelo. Não era um amarelo qualquer; um amarelo berrante, algo como um segundo sol naquela manhã soturna, pesada.
Ela olhou, estranhou e continuou observando. O homem caminhava lentamente, muito ‘a vontade’ dentro do seu figurino destoante. Parecia não se incomodar com os olhares ou os risos. Passeava em meio àquela chuva. Passou por ela e seguiu o seu caminho.
Ela também seguiu, mas levou consigo a imagem daquela figura sem pressa, sem truques, sem máscaras. Tão confortável dentro de si mesma. Tão rara.
sábado, 1 de novembro de 2008
Crônica: O Homem do Guarda-Chuva Amarelo
Manhã de chuva, dia nublado; daqueles tão cinzas que qualquer graça se perderia.
Ela descia, atrasada como sempre, se atrapalhando na tentativa de organizar na grande bolsa, um caderno e um telefone celular.
O vai e vem de pessoas, apressadas, fugindo dos pingos que caiam incessantes do céu. Um mar de guarda-chuvas atravessava de um lado a outro como uma dança não sincrônica, descompassada. Pretos, cinzas, mornos.
Chegou ao ponto de ônibus e, enquanto aguardava a sua lotação, avistou do outro lado da rua um homem que chamou a sua atenção. Aliás, a atenção de todos. Não por “ser nada demais”, mas, por ousar ser diferente. Aquele homem trazia nas mãos um guarda-chuva amarelo. Não era um amarelo qualquer; um amarelo berrante, algo como um segundo sol naquela manhã soturna, pesada.
Ela olhou, estranhou e continuou observando. O homem caminhava lentamente, muito ‘a vontade’ dentro do seu figurino destoante. Parecia não se incomodar com os olhares ou os risos. Passeava em meio àquela chuva. Passou por ela e seguiu o seu caminho.
Ela também seguiu, mas levou consigo a imagem daquela figura sem pressa, sem truques, sem máscaras. Tão confortável dentro de si mesma. Tão rara.
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
As pessoas...
Em momentos de crise as pessoas sempre mostram algo que não conhecemos ou, são capazes das mais loucas reações. Nem sempre tão profundas, adimito.
Enquanto aguardavam a ida do ente mais querido para o centro cirúrgico fazer uma intervenção na coluna cervical, um homem e uma mulher; impacientes parentes da paciente; no auge da ansiedade, discutiam sobre política e futebol:
HOMEM: Você votou?
MULHER: CLARO!
HOMEM: Como se você não tem título?! (vicetória...)
Tsc tsc tsc....
Só palavras
Há dias em que me sinto fora de mim. Estranho, é como se o corpo estivesse aqui e alma longe. Olhar de fora, sei lá.
Talvez não saber ao certo qual papel exercer e na dúvida, ficar só com a embalagem. Jung falava de máscaras.
Esperam que cumpramos papéis, e na verdade devemos mesmo cumprir. Mas às vezes, lá no íntimo, as coisas ficam meio confusas...
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
No populacho
Agente cansa de ouvir aquela fábula do beija-flor: posso até não apagar o incêndio mas o importante é fazer a minha parte. É como aquela leva de ditados conformistas que servem mais para o povo da boa terra Brasil fugir da própria luta e contrariar o hino nacional do que se indignar e reagir. Pois é, mas de grão em grão a galinha enche o papo, e agente vai se conformando com essa vidinha de tartaruga e damos um único passo por vez, a cada quatro anos. Mas, como mais vale um pássaro na mão do que dois voando, nos conformamos com o estilo ‘deixa a vida me levar’ de Zeca pagodinho, tomamos uma brahma, ou uma Gelaaaadaa. No dia seguinte, encomendamos uma ressaca, nos conformamos com qualquer ex-rouba mais faz que se transforma em rouba, não faz ainda curte com a sua cara; e deixamos de lavar a nossa roupa suja em casa ou em qualquer lugar. Ficamos sujos mesmo, ou...nus.
A minha mãe me disse: cuidado com o que você diz nesse tal de blog minha filha: quem com ferro fere.....
domingo, 26 de outubro de 2008
O fogo...é fogo.
Após amargar a nossa já esperada derrota, afinal o povo não tinha como sair vitorioso deste segundo turno, li uma frase no atarde on-line que dizia: Cada povo tem o governo que merece.
Eu realmente discordo. Acho que a inabilidade histórica do nosso povo de forma alguma o faz merecer este atoleiro no qual já estávamos; com o perdão do termo, enfiados e no qual agora iremos chafurdar por mais longos quatro anos.
Tivemos uma eleição dos que votaram contra o PT ou a favor do legado de ACM, e dos que votaram contra ACM (eita fantasma!) ou Geddel na tentativa de, não só deixar vago, mas de destruir o trono do coronel. Poucos, realmente olharam para os mui dignos candidatos, até porquê, se olhassem, teríamos um recorde histórico de abstenções, brancos e nulos, algo para ser registrado no Guiness book.
Encaro este resultado como o mais legítimo exercício da democracia. As conseqüências de atos democráticos nem sempre são positivas, mas são legítimas.
Se quisermos um povo que efetue escolhas conscientes, precisamos nos voltar para ele. Começar. Construir.
Dignidade ainda não é um artigo na prateleira dos mercados. E, meus caros, a sociedade.....somos nós....
Entre a cruz e a caldeirinha
Assinar:
Comentários (Atom)
